quarta-feira, 3 de março de 2010

1 de Setembro de 2009

Mãe
Não te tenho escrito,
Bem sei.
Justifico a ausência
Não estou bem
Lê nesta carta uma urgência
Mãe.

Definitivamente
Não sou da cidade
Passo uma tarde entre o Chiado e o Rossio
E tenho tudo o que quero
A natureza entra morta pelas portas dos fundos
Dos talhos
E em pacotes de leite UHT
Aqui não há mar
Não há amar

Quero gritar, mãe
Ah, como quero gritar
Que o meu sonho morreu
Assim que cheguei à cidade
(Até as estrelas morrem se a avistam)


Os homens mijam à sua volta
Como feras
E vão nos carros a tomar comprimidos
(Dizem que é para não sofrer)

A cidade não abriga o poeta
Não me sacio na cidade

Mãe, dá-me colo
Mãe, dá-me um abraço, dos teus
E devolve-me

A brisa
O sal
O sol
O sul
O brilho
As silhuetas
As serras
As planícies
Os golfinhos
As flores
As mulheres
Os homens
As crianças
As aves
O beijo
O eu,

Este filho que te adora.

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