quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Tejo II



Aguarela, 20x40

Tejo I



Aguarela, 20x40

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Valsa no leito da morte

Travo no gosto sentir derrota
Trago no rosto igual figura
Minh’alma agora escura
De esperança não devota
Que o corpo não segura

Vitória, vitória…

Canto agora a minha morte
Finais acordes de vida
Sinais que toco, de fugida
Como quando pequenino
Lá longe, já ecoa o sino
Acabou-se a minha sorte

Vitória, vitória…
Vitória, vitória…



Corre uma mulher na praia
Despida de gente
Embalada com as ondas
Embala-me com seus seios
Corpo suave
Um pêssego macio
Leve como a brisa.
A névoa fria refresca-me o desejo
Ou então morreria ardendo
De amor


Coisa estúpida de se pensar,
Penso!
Regresso à vida (ou à morte)

Vitória, vitória…

Àqueles que em verdade me amarem
Agora em fim de vida vos mendigo
Quando em morte pois me visitarem
Levem-me alegria p’ro jazigo.
As flores já eu levarei comigo
Vitória, vitória…(palmas)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Sonhos

Ao longe oiço o resmalhar da selva de bambús
A humidade penetra-me os ossos
As pernas atascam-se em humus
Sou só eu
Sozinho
Guinchos e novo resmalhar
Como de serpentes
Está quente aqui, penso
Quente e húmido
Estou tão confuso

Agora um emaranhado de jornalistas
Cercam-me com perguntas
E flashes
E objectivas
Grandes lentes
E nada disto é objectivo
Sufoco aqui, desterrado
Seca-me a garganta, agora
Como pode ser?

Imundo
O mundo que se enraíza em mim
Fétido, penso
Aliás, cheiro
E grito
BERRO!
Viro-me e levanto-me.
Seco-me numa toalha turca bem seca
E deito-me,
Desta vez
Numa bela praia
Que não existe.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Caminho

Como se fosse a primeira
Não uma, mas a primeira vez
Aí vou eu – o mundo.
A brisa, que controlo com os pedais
Solta-me alguns cabelos da popa.
Beijo o vento,
Rio
Penso em ti
Prossigo
Pedalo e prossigo.

Atrás de mim voam pássaros
Que bebem da minha alegria
Penso
Penso e prossigo,
Pensando em ti.

Vejo os trilhos
Outrora desbravados por aquilo que ainda não somos
Vejo o céu incompleto,
Como nós
Vejo tudo isto e para além do que vejo
Sonho
Sonho,
Prossigo e pedalo
Penso em ti.

Páro!
Imóvel, vejo o mundo a ultrapassar-me
E tu, porque não chegas?
Anda
Vem ter comigo
Vamos a pé,
Mas vem
Anda preencher o céu
Aquecer o sopro da Primavera
Ver voar os pássaros
Até que,
Docemente
Se transformem em estrelas
Cadentes
Sobre nós.

Anda comigo explorar o infinito!
Vem!

Poema – osso

Sem impor condição
E contra a sua razão
Tantas vezes, forte e corpulento,
Te baixas trocando
Deferência por indeferença
Do homem.

Antecipas seu regresso
Que alumias
E embalas em leve sono
Dormindo,
Acordado,
À sua porta
Que não é tua.

Aqui tens
Neste poema
Mão terna
Carne tenra
Osso p’ra roer
E uma bola.
Qua mais não te sei dar.

Sabes?

Sabes?
(Talvez nunca me tenha assim dirigido a ti)
É que hoje vi o brilho dos teus olhos
E senti com urgência uma força a puxar-me as palavras
E o choro, talvez
Já ontem o sentira, enquanto esperávamos o cacilheiro
E víamos as gaivotas, devotas do tejo
Em voos rasantes
Mas, sabes?
(Desculpa-me se me perco)
Cada vez vejo mais claramente
Como somos iguais, ou não foramos pai e filho!
Sabes que uma vez vi um homem partir um copo na mão
E gritar Eu sou do Ribatejo!
Percebi logo que tinha carácter, ele
E eu,
agora que me correm da boca palavras como da sua mão escorreu sangue
E que com essa mesma força me bate o coração
Digo-te que sei que não sabes que a força se revela de variadas formas
Que ainda não controlas a espada que te vai na alma e que faz o sangue correr
Mas ainda assim arrisco a dizer-te
Sabes?
Às vezes, sou o homem mais feliz do mundo!

Quem, por contraste, sou

Busco uma qualquer inspiração
Percorro becos de palavras sem saída
Será que está vazio meu coração?
Será que estando bem não sou canção?
O hábito subtraíu-me a vida
Agora que sou uma adaptação.

Oponho o polegar aos restantes
Homem sou, por definição apenas
Meus descontentamentos triunfantes
Tornam-me igual ao que era dantes
Numa vida sem telas nem poemas
Outrora doces dias fulgurantes.

Sou roda que não faz girar o mundo
Movido por motriz igual a mim
Prudente, pouco mais que moribundo
Castrado do meu sentir profundo
Arrependido de me ter tornado assim,
Saudoso de um passado fecundo.

Admito que não vivo de poemas
Nem de telas constituo meu sustento
De que cor pinto uma tela sem alento?
Mas que grita o homem sem problemas?
Rezo para que seja um momento
E que cedo regressem meus dilemas.

Começo por tirar meus sapatinhos,
Minhas meias de lã irei rasgar
Vou fazer gigantes meus moinhos
Vou fazer dos ventos remoinhos
A minha Dulcineia resgatar
Vou atirar a bola p’ro vizinho.

Sair deste lugar prazenteiro
Procurar inspiração na chuva
E fazer deste dia, um ano inteiro
Vou fazer do frio a minha luva
Vou substituir água por uva
Como se o dia fosse último e primeiro.