quinta-feira, 5 de março de 2009

Hoje matei um poema

Hoje matei um poema

O homem perdido no silêncio
Embrulhava-se em palavras
Em frases deformadas.
Exprimia-se o homem
(Não se espremia o poema,
Ou vice-versa.)
Decidiu então que lhe retiraria
A pior das palavras.
Escolheu paixão,
Retirou paixão ao maldito
Que logo começou a ter sentido.
Tirou então carinho
Pois rimava com sozinho
(E não lhe apeteciam rimas).
Entusiasmou-se o homem
E proseguiu retirando
Flor, Amor, Ardor
Hesitou e deixou a dor
Que encaixava com muito rigor.
Nada seria belo,
Naquele poema
Tirou mar, céu e mel
Deixou fígado e fel
Pronomes ficaram caídos
Todos riscou até
Que rasgou o papel
Ficou o eu, sozinho
Amparado na dor
Mudou de estrofe
Repetiu-se o exercício
De fazer justiça
E pondo fim ao dilema
Deixou tudo riscado
Até que deu o poema
Como acabado.