sábado, 6 de dezembro de 2008

Amanhã, não me acordes

Recordo a imensidão da maré baixa,
Na Meia-praia.
A imensidão das searas d’outrora,
Que alegremente percorri
Ou de vastos milheirais, que já nem há
Onde vastas vezes me escondi,
Sonhando. Sempre sonhando.
Adoro a tranquilidade avassaladora
Que essas imagens me servem
Em bandeja de prata (e guardanapo de linho).
Como me adoro a mim.
Mas eu existo sempre, não a paz.

E às vezes tu vens
Maré-viva,
Ceifeira,
Debulhadora,
E molhas-me as costas que escaldam.
Devastas o trigo.
Descobres-me entre o milho.
Acordas-me.
Mas ainda sonho…

Sonho que um dia daremos as mãos
E correremos na praia, salpicando-nos docemente,
Como docemente se esvairão as nossas pegadas.
O trigo resmalhará à nossa passagem
E um leve trilho restará.
Abrigados no milho,
Faremos uma casa, com telhado.
Para docemente nos amarmos.

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