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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Vende-se T2, em frente à funerária

Na rua da funerária

Ninguém se esquece

Acontece

Uma dorzita, por vezes, aguda

Mas muita saúde

Não é

A sorte

É

A morte ali

Ao regar das flores

Na rua da funerária

Apregoando que

A vida acontece

Uma vez

Na rua da funerária

Ninguém se esquece

De viver

De resto,

Algumas rachas

Da idade

Humidade, pouca

Área de muita vegetação

Duplex

Cachet

Box

sábado, 4 de dezembro de 2010

No teu olhar

No teu olhar

No teu olhar vi

O mar

Vi no teu mar

Um pássaro preso

Que fizeras voar

Na liberdade vi

Caixas de música

Que embalavam

Pequenas bailarinas

No teu olhar

Carrinhos alinhados

Filas de soldadinhos

Vi saltos, correrias vi

Um queixo raspado

No teu olhar

E vi um menino

Um toque na campainha

Um Podes brincar?

Umas sapatilhas velhas, ou vividas

Um giz desfeito

Um tijolo, um caco

Um saco de búzios

Sem vida

Do mar

Vi livros e lápis

Riscar papel

Apagar, com cuspo

Passar borracha

Rasgar

Vi chorar

O teu olhar

E porque te vi chorar

Te beijo agora

A sorrir

No teu olhar vi

O mar

No teu mar

Um luar e uma rede

De embalar

O meu olhar

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Receita - Crepes de chocolate

Crepes de chocolate

A vaca mergulhou na erva
O leite mergulhou no balde
O cacau mergulhou no crepe
Que mergulhou na barriga dos meninos

O papá mergulhou na escola
E mergulhou a massa na frigideira
E o crepe no prato
Antes de saltar para a barriga dos meninos

A Rosa mergulhou a farinha no leite
E os ovos
Mergulharam mais o sal e o azeite, tudo isto
Antes de saltarem para a barriga dos meninos

Depois veio a noite
E todos mergulharam na cama
Os sonhos mergulharam na cabeça dos meninos
E todos mergulharam no chocolate

Quando tiveram frio
Taparam-se com crepes

Por ocasião dos festejos do dia da família, na escola da pequena Conchinha.

sábado, 15 de maio de 2010

A onda gigante

Paulo subira na vida a pulso
Veio a onda gigante
E só ficou com os pulsos
Que acabou por cortar

Pedro fez a casa da sua vida
Veio a onda gigante
E da sua vida restaram umas pedras
Sob as quais acabariam por o enterrar

Ezequiel, viúvo, dois filhos
Veio a onda gigante
Valeu-lhe o mais velho que pagou as exéquias
O outro era artista, comprou flores

Dinis trabalhava duro
Veio a onda gigante
E foi mesmo duro que deram com ele

João rezava sempre
Veio a onda gigante
E de joelhos pede-se paz à sua alma

Maria da Felicidade tinha tudo para ser feliz
Veio a onda gigante
Depois, como imaginam
Foi-se

Simão amava o mar
No sinistro dia descansava
E não apanhou a onda gigante
Antes foi por ela apanhado
Como os demais

Os poetas foram crianças

Três homens seguiam por uma estrada
O primeiro foi para a esquerda
O segundo, para a direita
O terceiro foi poeta

Três mulheres seguiam por uma estrada
Uma foi para a esquerda
A segunda, para a direita
E a outra foi poeta

Três crianças seguiam por uma estrada
A primeira foi para a esquerda
A segunda, para a direita
A outra foi poeta

Três poetas seguiam por uma estrada
Um foi o homem de que falámos
Outro, a mulher
E o último destes, foi criança

Aliás todos os três poetas
Foram crianças

Não quero endireitar o mundo

Tenho tudo o que havia antes de adormecer. Tenho até sono
Que importa se a terra gira?
Já ontem o fazia…
Eu seguia o meu caminho
E em pé, como deitado, não caía

Não quero endireitar o mundo
Nem sou necessário
Sem missão, apenas sonho

O vento forte levanta tudo.
De uma só vez
Vão mesas e cadeiras. Voam
Observo as copas
E sou a felicidade das aves
Sou a alegria da aranha
Que levitando vai
Assim, mas sem teia, eu.

Daqui vejo um senhor
(certamente avô, ou melhor,
Com óculos e cabelo de avô)
O senhor, dizia
Faz as palavras cruzadas
E lê as novas do dia.
Recusa-se a crer que voou
O avô.

Sobe, senhor, sonha, avô
(Antes um realista, que a solidão
Aqui, onde estou)

O cão, incrédulo, ladra
O cinzeiro recebe a cinza
E eu…
A verdade?
Sim, que sonho por aí…
Que voo em busca da verdade
Sim, que tenho a força de endireitar o mundo
Mas a realidade é que
Não quero

quarta-feira, 3 de março de 2010

Sou livre

Salto
Carpa
Solto
Sei a tua pele

Pulo
Melro
Livre
Levo o teu odor

Voo
Águia
Alto
Tenho o teu sorriso

Fecho as pálpebras.
Os meus dedos sabem
E seguem teu contorno.
Sou teu lábio, carne
Sou teu terno corpo.


Será liberdade levantar os pés da terra?
Então
Sou livre!

O céu, das casas

As casas caem
Depois dos homens
Amontoam-se as memórias

No aterro contam-se histórias
A quem as saiba ouvir
As fisgas, os amores, as vitórias

Saudade nas pedras
Choros e sussurros.

Triste fim
De uma vida nada vã.

6º Sentido

O homem tocou a terra
Agarrou-a com suas mãos e
Desfê-la entre os dedos

Foi ínfimo grão
Torrão,
Terno
Tenaz
Testemunhou o Sol

Com o respeito que se há-de dar
Aquela que um dia será mãe

A taipa, ergue-se estátua
Urgente, fecunda
Ao homem
E desperta um novo sentido

Sentir que ainda não é o céu

A queda de uma folha

Antes de morrer
As folhas
Curvam seus veios
Tornam-se aladas
Firmam formas flácidas
Fazem-se leves
E soltam-se pelo leme

Ao cair
Rodopiam
Piruetam
Dançam
Descem
Planam
Invertem movimentos
Sobem
E rodopiando
Voltam a cair…
Suaves.

Docemente
As folhas
Tocam a terra
E não morrem

Ninguém chora
Ninguém ri
Não há aplausos
Circos, acrobatas
Festas, fogo
Fado, foguetes, flores
Não é Carnaval
Não há presentes
Andarilhos
Promessas, pragas
Não se faz Poente

As folhas simplesmente
Caem, não morrendo
E tocam a terra, docemente

Vem

Sinto
Silvar acidulado
Se não vens
Percorrem-me as serpentes
Sábias
Em seu ferir

Por isso sei que vivo
Para te ver chegar

E brotam
De mim tardios
Pensamentos sobre ser feliz

Uma cor então
Me chega e basta
Para colorir o mundo

Assim como o vento junta as folhas
O tempo
Nós

“Façam o favor de ser felizes”

Em castanho acobreado
No Outono
Cai a folha

Vem a chuva em passos largos
A secura finada
A aspereza dos galhos
Floração arrependida

Os detritos da batalha
Que trava a morte com a vida
Na valeta de granito
Não me desviam o pensar
Daquela voz sorridente
Que com saudade me diz
Por favor, sê feliz


E na penumbra latente
Do Inverno
Nada é gente
Tudo é sombra

A alegria na montra
E o meu olhar descrente
Não a mira, não a compra

Alegria é pedra dura
Alta estátua, colossal
Do tamanho de dois mundos
Desde aqui ao infinito
Maior que a força do grito
Penso, sobrenatural
Por isso a dispenso
E por isso a deifico

E é nesse estado de pensar
De que nunca me refiz
Com o peito a fraquejar
Que as pálpebras se tocam
E…
(Ai como se fecham os olhos)
De angústia, de sofrimento
Do mais intimo lamento
Por coisa que nunca fiz

E num mágico momento
Um sussurro do vento
E aquela força que me diz
Por favor, sê feliz.


Mas cai a noite
Cai o mundo sobre mim
Não durmo
Alterno o lado, taciturno
Entre o princípio
E o fim

Ajoelho-me, prostrado
Com uma força ínfima
A pouca que me resta
E abro os braços
Olho os céus
Clamo piedade
Choro lágrimas
De mim
Não acredito…

É aí mesmo
Um pouco antes do fim
Que meu coração perdido
Sente o cintilar distante
E ressuscito
Em primaveras
Aves canoras, gerberas
Incensos e licores
Frutos de mil sabores

Dou graças à densa noite
Que deu luz àquela estrela
De voz (ternura) tão bela
Que olha para mim e diz

Por favor, sê feliz

Bem-vindo à vida

Da laranja
Espremida
Apenas saíram homens
Em número de 24.
Olhei
Uma última vez
O seu sorriso
Que dizia
Bem-vindo à vida
Peguei nela e
Antes de cuspir
Atirei-a
Às trombas do mundo.

A insalubridade dos narcisos

Os sexos tombados
à ingratidão
dos homens

Os sabres desembainhados
vergando-se à forja
da insensatez

Os sábios,
sabiamente calados
à incompreensão

Era a tinta seca,
a cal em pedra,
o sangue escorrido

O minério
que decididamente
se agarrava à terra

A espécie que fenecia

E tu…
Ao espelho
Um pente
Sorridente
Um dente d’oiro
Ensaiando poses
Não foges de ti

Eu curvo-me
E vomito
O pouco que resta de mim

O homem agitado

O homem agitado
Na torre da igreja
Clamava por Deus
Não vinha ninguém

Era o Outono nos olhos do mundo
As ruas caladas
A paz aparente, das palavras

Era a ânsia do desassossego
O silêncio dos sonhos
Das estátuas de carne, vivas

Era o grito surdo
Que o calor denso
Teimosamente abafava

O homem agitado
Na torre da igreja
Não vinha ninguém
Clamando por Deus
Ou seria eu?

Sentidos

Sentidos

Os pinheiros abrigam a paz
Das rolas em teu peito
Toco-te
E brindo à eternidade
Com odores de Verbena
Como se fosses tu.
Na boca fica-me o mar sonhado
De não te ter aqui
E assim vou morrendo
De tanto viver.

Beijo madrugada

Há um feitiço de lua cheia
Nos teus olhos
E a noite escura sonhada
Em teus cabelos
Mas é nos teus lábios,
Que me querem
Que me perco
E o rio de águas mansas
Corre
Em teu corpo.
Na volúpia dos seixos rolados
Agitam-se freneticamente
Os carvalhos
E (súbito estrondo)
A trovoada
A chuva
Os dedos entrelaçados
E o encontro.

Abraço-me a ti
E sonho a madrugada.

Miragem

Caneta e aguarelas
Papel, muito papel
Passado, pouco
E parti
Sem esperança de outro sol
Mas fui
Por aí.

Quente
Aqui está quente

Tão quente que
Secam minhas lágrimas antes de chegar ao espelho
Tão quente que
Á minha frente treme o destino
Tão quente que
O teu sorriso é agora, apenas uma miragem

Cais

Sem rumo
O mar da emoção
Contida
A força das ondas
Revoltas

Cais

O céu sem Estrela polar
A neblina opaca
A bússola sem Sul
Nem Norte
À sorte

Cais

Evitas a morte
Mas não vais

Credo?

Na verdade
As Coisas sempre existiram
O homem viu o Fogo
E reproduziu-o
O Bronze?
Estranho e Pobre
Seria admitir ao homem a sua criação.
Os Quiriri
Os Pataxó
Sentiam-se sós?
E se tudo isto foi
E se tanto tempo passou
Porque crês ainda
Na inocência do homem?