Rua do Ouro, de óculos escuros
Um homem persegue a berma
Agarra-se à confiança na bendita
O estalido seco da bengala afasta os demais
Como se ao evitá-lo fugissem à realidade
O sinal fica vermelho, sabe-o
E tem que ser o primeiro a partir
Porque no verde a multidão cega e engole os mais fracos.
Cheira-se o Tejo, ao longe
Novo cruzamento, onde está um homem-estátua
Que não vê e passa-lhe ao lado
Dois japoneses tiram um retrato junto ao D. José
Observam a sua destreza e seguem fotografando.
Para onde vai? diz-lhe uma senhora
Que lhe dá o braço e atravessa a última estrada que o separa do mar
Do outro lado, afasta-se sem despedidas
O homem, acostumado, também não agradece
A vida em tom escuro apagou-lhe o sorriso
Num banco de pedra sonha com o mar,
Que nunca lhe contaram.
E sonha-se gaivota que nunca viu voar
Ouve o grito dum barco
Que lhe vibra corpo adentro.
Mas não grita.
Se ao menos pudesse chorar…
Soltaria num lamento
Que um homem sem sentidos
Também tem sentimento.
Mas não chora.
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Polaroid, em tons de negro
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