Mãe
Não te tenho escrito,
Bem sei.
Justifico a ausência
Não estou bem
Lê nesta carta uma urgência
Mãe.
Definitivamente
Não sou da cidade
Passo uma tarde entre o Chiado e o Rossio
E tenho tudo o que quero
A natureza entra morta pelas portas dos fundos
Dos talhos
E em pacotes de leite UHT
Aqui não há mar
Não há amar
Quero gritar, mãe
Ah, como quero gritar
Que o meu sonho morreu
Assim que cheguei à cidade
(Até as estrelas morrem se a avistam)
Os homens mijam à sua volta
Como feras
E vão nos carros a tomar comprimidos
(Dizem que é para não sofrer)
A cidade não abriga o poeta
Não me sacio na cidade
Mãe, dá-me colo
Mãe, dá-me um abraço, dos teus
E devolve-me
A brisa
O sal
O sol
O sul
O brilho
As silhuetas
As serras
As planícies
Os golfinhos
As flores
As mulheres
Os homens
As crianças
As aves
O beijo
O eu,
Este filho que te adora.
quarta-feira, 3 de março de 2010
1 de Setembro de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário